Monday, March 14, 2011

Manda Bocas entoa o hino de uma nova resenha:O Hip Hop a Morrer.

Caríssimos

Sejam muito bem-vindos a mais uma reunião a volta da árvore mujimbeira do movimento. Mais uma vez as palavras aqui se erguem como catanas a faiscarem ideias da luta armada em prol do movimento.

A presente edição começará com uma citação do registo discográfico de uma das maiores lendas do hip hop Americano, ele mesmo Nas e a música é “We Will Survive ”, registada na terceira obra e segunda dupla platina I Am, lançada aos 6 de Abril de 1999 pela Columbia Records. A música We Will Survive é uma homenagem aberta aos dois expoentes máximos do hip hop Tupac Shakur e Notorious B.I.G bem como é uma reflexão do artista sobre a condição sócio económica da juventude afro africana. Este sonoro é também considerado por alguns como sendo a faísca lírica que ateou fogo a palha do ego do Jay Z e que terá despoletado posteriormente o beef entre os gigantes mas isso é um aspecto que abordaremos noutra edição, por ora centremo-nos na passagem da primeira estrofe em homenagem ao Biggie onde Nas esboça o seguinte:


I used to make records just to see your responsepor Nas 

Às elações que podem ser extraídas daqui são inúmeras entretanto a que me chegou particularmente foi a seguinte e passo a explicar. Tal como os produtores fazem e retiram porções ou extractos de canções antigas, contemporâneas ou mesmo modernas para com o chamado “sample, ou seja, para com a “amostra” que passo a chamar recorte, poderem então recriar e criar. Ora, a mesma técnica do recorte é usada pelos mcs que muitas vezes usam extracções ou porções recortadas de versos doutros mcs para criarem novas músicas, um exemplo vivo disto é claramente a música “Dead Presidents do single promocional do álbum Reasonable Doubt de 1995 de Jay Z, o artista na música usa um recorte do verso de Nas da músicaThe World is Yours”, e o extracto em questão usado por Jigga é o que se segue:

President to represent me
I´m out for Presidents to represent me
I´m out for dead presidents to represent mepor Nas

Portanto, nesta arte é característico os artistas usarem passagens uns dos outros quando estas são inspiradoras pela positiva ou ainda quando estas inspiram ou motivam beefs pela negativa. A técnica vai além, pois tal como indica a primeira passagem da edição de Nas, muitos artistas iniciarem mesmo um processo de resposta discográfica para por intermédio discográfico responderem a obras de outros ou a passagens de outros mcs em determinadas músicas. O curioso é que esta tendência também não ficou longe do nosso movimento e o foco nesta edição recai sobre o tema Hip Hop a Morrer” do disco Renascimento do Tubarão Branco de 2010 de Sandocan.

Como é constatação geral, o ano de 2010 foi um ano que registou uma conta baixa de obras de hip hop nacional no que toca essencialmente tiranges direccionadas para o grande público, é claro que isto foi motivado por vários factores como a falta de condições económicas ou musicais por parte dos artistas para se produzirem obras ou ainda insucessos no campo musical ou tentativas falhadas de entrada no mercado musical, falta de adesão ou incapacidade de escoar as músicas nos diferentes canais musicais ou o afastamento do campo musical em função da opção pelo campo laboral noutros ramos por motivos de sobrevivência e se continuarmos a listar poderemos detalhar um horizonte infinito de razões pelas quais as obras não foram produzidas no ano de 2010.

Seja como for voltando a questão resposta, a música Hip Hop a Morreré determinadamente uma das melhores do ano transacto senão mesmo a que maior impacto teve sobre o movimento. O tema retrata o estado geral desta arte no reduto nacional, o nosso já conhecido exército intervindo pelo braço do seu general faz uma chamada de atenção ao Movimento expondo as carecas, a farsa, a vaidade, a falta de sentimento genuíno, o pouco trabalho, a falta de perseverança e a orientação dinheirista por parte de alguns artistas. Factores estes que estão a roubar a essência desta arte e consequentemente a deteriorar a orientação deste estilo artístico. O puxão de orelha sentiu-se mais severo para alguns devido ao efeito surpresa  e chamo-o assim pois para os mais críticos e menos atentos a Army Squad foi injustamente categorizada como sendo um grupo virado apenas para a música de festa, digo menos atentos pois estes não ouvem as obras ao detalhe e cingem-se apenas as músicas badaladas do grupo que ficaram na boca popular passando assim o rótulo de imediato. Esquecendo que na realidade muitas vezes os temas que ficam no ouvido popular não reflectem na integra o teor de uma obra discográfica ou não revelam a amplitude geral da alma dos artistas. Para os mais atentos e também menos preconceituosos na escuta musical não foi surpresa total pois estes estão habituados a ver a Army a seu modo fazer intervenção desde o “Ela e Cabeça Vazia no primeiro álbum Firme pela Bwé de Beats em 2002 e depois no primeiro trabalho discográfico do General da Army que volta a reunir o seu exército nos temas “Whisky Cola e Se eu Soubesse  no registo intitulado “Tubarão Branco”  de 2007. Embora seja ponto assente este colectivo nunca se ter pronunciado com relação o hip hop e particularmente o movimento é de todo discutível a noção de que o General da Army e os seus companheiros sejam desprovidos da consciência critica característica deste estilo artístico.

Assim sendo, juntando o factor surpresa mais o facto desta música ter sido a primeira manifestação directa do colectivo para com o movimento, podemos adicionar ainda a constatação global de que o estilo está em crise ou senão mesmo morto tal como mencionado novamente por Nas no álbum de título Hip Hop is Dead de 2006 que tem como objectivo reaver a essência e apelar aos feitores a darem continuidade a tradição artística peculiar deste estilo. É bem verdade que a obra do artista surge anos depois do fabuloso tema I Used to Love H.E.R (Hearing Every Rhyme) da lenda de Chicago, Common Sense, tema extraído do registo discográfico  Ressurection de 1994. Common na música faz uma analogia, dirigindo-se ao  Hip Hop como se de uma mulher se tratasse manifestando o descontentamento por vê-la tornar-se fútil, usada e banalizada. Portanto como pode ser comprovado pela perspectiva histórica o fundamento de que esta arte tem estado em colapso não é necessariamente uma tese nova e despontou há muito nas reflexões deste titã musical, ele mesmo Common Sense. Ora, postas estas cartas a mesa se torna mais fácil compreender o peso que o tema “Hip Hop a Morrer comporta, uma vez que tem sido manobra sistemática por parte dos gigantes usarem esta chamada de atenção com o objectivo de fazerem ressurgir o real espírito do movimento e isso também é nos  revelado no tema U Gotta Do for Love interpretado por Laton “Babee Liaton, integrante do lendário grupo Kalibrados, tema extraído da mixtape do artista de 2007/2008 onde o mesmo diz:

O a vontade que transpareço a dureza que eu te ofereço
“Deixa claro que o Hip Hop tem valor mas não tem preço”
“O Nas foi mais inteligente cagou na controvérsia
Porque salvar o hip hop é bem mais URGENTE”
Mas o mérito de uma lenda vem sempre depois
E eu vou manter vivo o hip hop e verdadeiro por mais gerações por Laton “Babee Liaton”

Assim sendo,  o ataque ou critica severa na arte hip hop é uma das tácticas usadas para provocar respostas imediatas como a que se quer num momento onde despontam artistas que tendem desvirtuar ou mudar a orientação do estilo e põem em risco a sua continuidade tal como se deseja. O puxão de orelha foi tão severo que determinadas vozes sentiram de imediato a obrigatoriedade de manifestarem suas opiniões no sentido de confirmar a vida e existência do hip hop e a resposta ao tema Hip Hop a Morrer de Sandocan e seu exército é orquestrada pelo duo que atende por Génesis na música Hip Hop, extraída da obra discográfica intitulada Renascer do Meu Povo (Valorize o Angolano)de 2010, a resposta traz versos claros e direccionados, vejamos determinadas passagens:

“Esses niggaz falam shit vira boca wi
Como é que o rap morreu se estou aqui”
“O rap vive isso é lógico
Se o rap morreu quando é que foi o óbito?”
“O rap vive ainda hj lhe vi
Vi no carro de um mwadie que ouvia SSP” por Action Nigga

“Que defunto é esse que ainda fala que ainda ouve
E quando abre a boca o mundo inteiro se move”
“Cada geração no mundo tem a sua era
Lamento que se o rap que tu fazes já era”
“Vem em frente impõe a tua posição
O rap que tu fazes é que é rap o dos outros não”
“És o campeão dragão, és o nosso capitão
Quero que tu saibas que o rap não morreu não” por Punidor

“Dizem que danço do milindro
Eu danço e até digo posso
Porque quando danço valorizo o que é nosso”
“Se rappers imitam o Jay Z
Porque não posso imitar Agre G “
“Valorizo tudo que é de cá
Por isso danço do milindro e até chupa lá”
“E o rap não morreu pra mim
Porque a cada dia nasce mais um mc”
“Tu és louco, rap vive bro
Na criança, pai e mãe na avo”
“Se amas o rap saiba o hip hop
Não morreu porque o teu coração bate por Action Nigga

O que para muitos pode ter sido interpretado como beef aos meus olhos parece ser o resultado automático a terapia de choque usada pelo Sandocan e o seu exército e a terapia foi tão bem medida que de imediato vão surgindo outras respostas como podemos verificar na voz do sonante produtor e mc Raiva e na voz do Número 1 do Rap em Angola Big Nelo na música “É Impossível” :

“Businesses são grandes e música é parte disso
Se o hip hop está a morrer ponho o meu coração nisso” por Raiva

“Puto, xé, sai, eu sou a praga
O hip hop não morre porque o Big da Cargapor Big Nelo

Como se pode ainda ouvir do digníssimo mc Kool Kleva na mixtape o “Último Samurai V2de 2010

Não casei com o rap eu sou raio desta merda
Sou macaco no meu galho e eu não caio dessa merdapor Kool Kleva

Ou como podemos também ouvir o incrível mc Benhur na faixaRap Slaves” 

“Não casei com o rap fiz amizade com ele
Tenho-lhe presente na mente, não preso na pelepor “Benhur

A terapia de choque de Sandokan e seu exército se mostra efectiva e sustentada pois além das vozes já mencionadas surge uma chuva de vozes eminentes de dentro do movimento confirmando e sustentando a chamada de atenção tal como pode ser comprovado em algumas vozes manifestadas no trabalho discográfico Mixtape de 2010 “O Último Samurai V2” do nosso ilustreDj Samurai”, como poderemos verificar abaixo:

“O rap ta cada vez mais wack está-se a degradar
Muitos infiltrados querem tomar o nosso lugar  por Bob da Rage Sense

Colam-se com o DURO
Eu colo-me com o PUROpor Denexel

Aconselha o teu empresário a fazer seguro de investimento
O rap tá decepcionar mais que gravidez antes do tempo por Extremo Signo

Há muitos rappers poucos com habilidade
Não preciso ser palhaço pra cantar a verdade por Vui Vui

“A quantidade de cérebros a pensar na cérebro
São suficientes para libertar o hip hop do enterro
E se for para brincar de mcs
Peguem nas vossas caras e tentem no karaoke” por CFKappa

Ouvi muitos álbuns, muitas merdas saíram
Muitos wís lançaram e nada raparam” por Lil Jorge

O rap ta uma bosta
O movimento corre a conta gotas
Todo rapper é a merda, hip hop anda as moscas por Kadaff

“Eu tive de aprender a saber fazer e saber ser
O rap esta em coma profundo, ok vou socorrer por Raf Tag

O under tá morrer, grande se vinga
Quero lá saber brother sandinga,
Quem num tá aguentar pode fugir
O que eu posso vós garantir é que o meu nome ainda não é MINGA” por Pai Grande o Poeta

As manifestações são inúmeras e todas apontando na mesma direcção do “Hip Hop a Morrer o que torna a música do colectivo da Army bastante sustentada pois todas estas tencionam fazer ressurgir o espírito verdadeiro e reacender a chama do hip hop e muitas vezes os artistas se apedrejam entre si não prestando atenção ao facto de no fundo estarem a lutar pela mesma causa e a memorável resposta garantindo a vida, força, espírito e continuidade do hip hop surge no verso memorável de Reptile que passo abaixo por completo:

A idade pesa o tempo urge e nada fica pra depois
Isso é a mixtape do Dj Samurai parte dois
Segundo as más línguas o hip hop tá nas últimas
Enquanto não morrermos vou ter cá as minhas dúvidas
Somos a evidência de existência
Somos um movimento nos chamem de resistência
Similar a Martin Luther King ou a Malcom
Mesmo que me mates, faço história como o Michael
Chegamos ao fim nah isto é o princípio
Vem, mobiliza o teu município
Traz a tua squad brother traz a tua gang
Precisamos de mcs e não de gajas num harém
Pra cuidar a cultura nos ghettos e nas cities
Pra isso há um só caminho como o Viris
Vivo pela causa morro pela causa
Se alguém se mete no caminho brother eu corto pela cauda
Mcs, djs, graffiteiros e b boys
A todos que acreditaram e se mantêm real hoje
Muitos falharam mas esquece quem ta de costas
Avisem ao mundo inteiro o nosso hip hop ta de volta por Reptile

Conclusão, estamos de facto vivos e creio que a intervenção do Sandokan, Mainkilla e Nkruman Bea não foi senão a de fazer os músicos afirmarem que o movimento perdura e que é através da música verdadeira e com essência que perduraremos. Assim sendo, este tema é sem duvida o tema com maior abrangência dentro do movimento e também na esfera popular devido a notoriedade que os artistas deste colectivo granjeiam no seio do grande público. Voltando a objectiva noutra direcção a Rádio Luanda destacou o nosso querido Phathar Mak  como o artista hip hop do ano de 2010 e a meu ver no que toca o grande público ou máximo apelo popular no que toca este estilo apenas posso veicular dois nomes Kid Mc ou Sandokan e considerando o facto da obra do Kid Mc ter saído no fim do ano e a obra do Sandokan ter saído bem mais cedo e ter também tocado bem mais tempo e ter abrangido uma base de ouvintes bem mais extensa dentro e fora do movimento, acredito e sem querer roubar o mérito ao artista e pioneiro Phatar Mak, ou o empenho, talento, eloquência  e franqueza na obra do Kid Mc, acredito que a distinção deveria ser atribuída ao Sandokan pois o trabalho do artista falou por si e na realidade sem querer são manifestações deste género por parte dos meios de difusão massiva que tanto podem fazer com que os artistas se esforcem mais para produzir como podem fazer com que estes se vendam fazendo apenas o que as rádios e radialistas desejam, noutras palavras, manifestações do género podem de facto causar o enterro deste estilo musical! Portanto a iniciativa de criação da distinção  por parte da rádio é bastante salutar mas queremos imparcialidade e objectividade na eleição de artistas e queremos jornalistas que façam bem o trabalho de casa e que na eleição de artistas fiquem completamente de parte os corredores políticos e jogos de conveniência típicos da politica Angolana.

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